sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Hoje o dia ainda é mais importante que os outros

Lembro-me particularmente de uma prenda que ofereci à minha Mãe no aniversário dela. Devia ter aí uns sete anos e resolvi fazer-lhe um colar... cm papel de lustro!
Lembro-me que tinha um caderno desse papel com cores muito fortes: verde, azul, rosa, laranja, vermelho e também branco e preto.
Resolvi então cortar o papel em tiras de cerca de cinco centímetros e rematar as pontas em bico. Passei cola na parte de dentro do papel e enrolei as tiras numa agulha de croché. Depois de secas enfiei-as num fio e dei um nó. Meti num envelope branco onde na parte de fora desenhei umas flores, também todas cheias de cor.
Andei imensos dias afazer aquilo. Fazia Às escondidas no quarto antes da hora do jantar e quando a minha Mãe me ia chamar para jantar eu escondia as coisas.
É claro que a minha Mãe nunca usou o colar. Guardou na gaveta da mesinha de cabeceira, dizendo que quando chegasse a Primavera iria arranjar uma blusa para poder usar o colar. E sempre que eu abria a gaveta da mesinha de cabeceira saía a pergunta:Ó Mãe ainda não arranjaste a blusa?'. Enquanto não foi Primavera a desculpa de esperar serviu, depois passou para 'Ainda não encontrei uma que combinasse com essas cores.'-dizia-me ela.
Eu acreditava. Eu tinha sete anos. E tinha a convicção de que o colar era lindíssimo e que ela podia perfeitamente usá-lo na rua, por isso a questão era mesmo a blusa. Para além disso a minha Mãe era e é uma pessoa com gostos muito singulares a quem nem tudo agrada, principalmente o que agrada a todos. É pessoa de fazer as suas próprias modas... não fosse ela conhecida como a 'miss de S. Pedro' na freguesia onde nasceu e morou até casar.

Sim a minha Mãe é especial porque é minha Mãe e porque é mesmo uma Mulher muito especial. Não tem medo das pessoas. Já em miúda enfrentava os rapazes mais velhos, maiores que ela... defendia o primo e ia-lhes fazer esperas à porta da escola para tirar satisfações sobre as maldades que eles faziam ao primo mais novo que ela um ano.
Mas tem medo, pavor até, das acções da Mãe Natureza, do vento, tem muito medo do vento. Tem pavor da trovoada, mesmo depois de numa noite de trovoada o meu Avô a ter obrigado a ver a trovoada à janela. Tem medo do Mar e tem um medo tal, que atá a palavra lhe custa pronunciar, do cancro. Quantas vezes não a ouvi dizer: 'Deus nosso Senhor nos livre dessa doença.'. Ironicamente foi a ela que tocou cuidar do meu avô na sua doença quando já em estado terminal, o que ela fez de uma forma tal que o médico de família a convidou para fazer voluntariado num hospital ou até mesmo tirar um curso de enfermagem.
Sim é uma mulher especial. Tão forte como fraca. Tão meiga como rude. Não, não é uma mulher do meio termo, é de extremos que Às vezes nos leva a temer pela sua reacção.

É a minha Mãe e muito haveria para dizer sobre ela, mas seria pouco.

Ela hoje faz anos e cada ano que passa este dia continua a ter mais importância porque a tenho comigo e que seja por muitos anos. Não me consigo imaginar sem ela e sem o meu Pai.
Um dia que isso aconteça todo o chão desaparecerá debaixo dos meus pés e nem eu, nem o meu viver serão os mesmo. Que longe estejam esses dias.

E como o dia de hoje é de festa, vou-lhe ligar já já.

1 comentário:

Alberto Velez Grilo disse...

Que saudades...

Um beijinho para ela.

Tenho mesmo que ir aí